José Maria de Almeida, presidente nacional do PSTU
• A onda de protestos que explodiu no Haiti envergonha todo o povo brasileiro. Neste momento, o povo haitiano está se enfrentando diretamente com a ocupação da Minustah, missão da ONU que é liderada pelo Brasil desde abril de 2004. No último dia 18, dois haitianos foram mortos em protestos contra a ocupação militar. Não é a primeira vez que as tropas brasileiras reprimem uma manifestação haitiana. O episódio atual apenas trás a luz o real caráter da Minustah.
A ‘ajuda’ fracassou
Estive no Haiti dois meses após o terremoto que devastou o país. Constatei de perto que não havia nenhuma reconstrução do país em curso, como diz o governo aqui no Brasil. Testemunhei situações degradantes. Milhares e milhares de haitianos vivem em condições subumanas nos acampamentos improvisados construídos após o terremoto. Um milhão de pessoas vivem nessas condições, com comida escassa, sem esgoto, sem água limpa.
A verdade é que a “ajuda” prometida pela ONU fracassou. Apenas 2% da ajuda foi enviada ao país. E hoje as pessoas estão vivendo em uma situação pior a que foram deixadas após o terremoto. Agora o país está sendo devastado por uma epidemia de cólera. A cólera é transmitida através da ingestão de água ou alimentos contaminados. É uma doença da Idade Média que surge com força no Haiti e já matou mais de 1.110 pessoas e infectou outras 18 mil. A epidemia era mais uma tragédia anunciada, pois é produto da precária situação na qual vivem os haitianos após o terremoto.
O pior de tudo é que a doença tem relação direta com a ocupação. O povo haitiano acusa Minustah por trazer a doença através de soldados nepaleses infectados. O que é bastante provável, pois a própria ONU divulgou que a bactéria causadora da epidemia no Haiti é a mesma encontrada no Nepal.
Uma ocupação colonial
Disfarçada como “missão de paz”, a Minustah exerce uma verdadeira ocupação colonial. Seu objetivo é manter a ordem no país sob as pontas das baionetas e garantir a aplicação de um plano econômico que significa a recolonização do país caribenho.
O plano consiste em na criação de zonas francas no Haiti, com multinacionais produzindo para o mercado norte-americano. Assim, as multinacionais se aproveitam do salário miserável pago aos trabalhadores haitianos, que garante uma taxa de lucro maior do que na China. É por essa razão que se explica a presença do ex-presidente americano Bill Clinton como “enviado especial da ONU para o Haiti”. Mas os empresários brasileiros também estão de olho gordo nessa oportunidade de negócios. Empresas do setor têxtil, como a do vice-presidente José Alencar, querem explorar a baixíssima mão de obra haitiana.
Nos últimos seis anos, todos os protestos ou greves realizados pelos trabalhadores, seja exigindo salário, contra a fome e a ocupação, foram duramente reprimidos pelas tropas da ONU. Além disso, a ocupação também coleciona inúmeras denúncias de violações contra os direitos humanos.
O terremoto foi um pretexto para reforçar a ocupação militar no país, sob a desculpa de “reconstruí-lo”. O governo Lula dobrou o número de tropas no país. Um contraste enorme diante do escasso número de médicos, remédios e alimentos enviados para a dita “reconstrução’.
Abaixo a Minustah
O governo Lula afirma que a permanência das tropas brasileiras é fundamental para a “retomar a democracia no Haiti”. Dilma Rousseff repete o mesmo discurso. Como pode existir democracia quando o direito de autodeterminação de um povo é reprimido pela força das baionetas?
A vergonhosa ocupação militar deve acabar. Os trabalhadores brasileiros não podem concordar que o governo mantenha soldados que mata e reprime o povo haitiano. Os soldados brasileiros devem ser retirados imediatamente do país. É preciso enviar médicos e medicamentos aos nossos irmãos haitianos, e não soldados. É preciso defender sua soberania e a dignidade, e não submetê-los a mais vil humilhação. Nessa luta, estamos ao lado do povo haitiano e com eles, atrás das barricadas, gritamos: “abaixo a Minustah!”
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