Ida ao palácio será na sexta-feira. No texto amplamente distribuído hoje na Praça Tahrir, ativistas e afirmam que “aquele que faz uma revolução pela metade cava a sua própria cova”
Luiz Gustavo Porfírio, direto do Cairo
Wael-Ghonim, executivo do Google, libertado hoje no Cairo
• No início da tarde desta terça-feira, 8, a Praça Tahrir está mais cheia do que os outros dias e calculo que 1,5 milhão de pessoas estejam aqui agora. Muitas vieram comemorar a libertação de Wael Ghonim, executivo do Google, preso desde 27 de janeiro. Ele foi preso por incentivar a revolta, a partir da pagina We are all Khaled Said, que homenageia o jovem morto por policiais, símbolo desta revolução. Hoje voltou a escrever no Twitter, pedindo “liberdade”.
A grande e crescente concentração parece colocar em xeque os que apostam no gradual esvaziamento. Aproveitando esse grande público, a coordenação do movimento na Praça Tahrir fez circular um manifesto intitulado “Por que continuamos aqui. Por que não fomos para casa”. O texto apresenta nove motivos para continuar a luta, como a exigência da revisão da Constituição, a saída de Mubarak e a punição dos responsáveis pelas mortes na Praça Tahrir até a criação de um salário mínimo no país. E conclui chamando a continuidade da luta e alertando que não se faz uma “revolução pela metade”. Veja ao final a íntegra do manifesto.
Os manifestantes também discursaram anunciando uma marcha na sexta-feira. Desde domingo, dirigentes do movimento já alertavam para uma surpresa no final desta semana. A confirmação da marcha foi feita oficialmente hoje, através dos equipamentos de som. No entanto, os discursos esclareciam que não se tratava de uma grande marcha, com todos os que estiverem na Praça Tahrir, mas uma “delegação”, com “apenas” 10 mil pessoas.
MANIFESTO
Por que continuamos aqui. Por que não fomos para casa.
1 – A Constituição ainda não foi revisada.
2 – O Parlamento ainda não foi dissolvido.
3 – Os saqueadores, agentes e bandidos que assassinaram nossos irmãos na Praça Tahrir e em outras cidades não foram julgados. Permanecem impunes.
4 – Ainda há muita corrupção e existem muitas autoridades corruptas
5 – O governo ainda é o mesmo. E no governo ainda estão muitos corruptos, como os ministros das Comunicações, TV e Rádio; do Trabalho e Imigração; do Petróleo e o ministro da Relações Externas.
6 – Ainda existem presos políticos nas cadeias.
7 – A Lei de Emergência e o toque de recolher ainda estão em vigor.
8 – Ainda não temos liberdade para criar partidos políticos. E a direção corrupta dos partidos atuais permanece intacta.
9 – Ainda não temos o salário mínimo no país.
Sabemos que nos foi prometido que todas as reivindicações seriam atendidas, e que levariam algum tempo para isso. Mas quem nos vai garantir isso?
A única garantia é ficar aqui e nos mantermos firmes até termos nossas reivindicações atendidas e cumpridas.
Temos de fazer isso. Porque aquele que faz uma revolução pela metade está cavando a sua própria cova.
O regime não aceita ouvir, entender ou negociar.
O regime está brincando conosco.
As nossas exigências estão claras agora.
Manifesto distribuído amplamente na terça, 8 de fevereiro de 2011, na Praça Tahrir
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