domingo, 18 de dezembro de 2011

Prisão de Abu Ghraib é marca da ocupação dos EUA no Iraque
18 de dezembro de 2011  10h54  atualizado às 11h16

 
 

Os americanos "nos prendiam em caixas de ferro e faziam um ruído infernal que provocava terríveis dores de cabeça", lembra Abu Mustafá, que conheceu o inferno da prisão de Abu Ghraib, o que, em alguns momentos, "o deixa louco".
Este instrutor de 33 anos, oriundo da cidade xiita de Nayaf, pertenceu ao Exército do Mahdi, a milícia radical xiita de Moqtada Sadr. Detido em setembro de 2004, passou quatro anos nas prisões americanas, e neste período esteve por duas vezes em Abu Ghraib.
Ficou desde então em um estado totalmente instável. "Em alguns momentos fico louco, grito sem razão ou permaneço prostrado durante horas. Minha família me pergunta porque me comporto assim. O que dizer a eles?", conta. "Não posso descrever o inferno que eu suportei", explica este pai de duas crianças.
Em abril de 2004, a prisão de Abu Ghraib, 20 km a oeste de Bagdá, se converteu em símbolo da ocupação americana para muitos iraquianos, após a revelação dos maus-tratos infligidos aos prisioneiros por soldados americanos.
A publicação das primeiras fotos dos prisioneiros maltratados por seus carcereiros provocou um sonoro escândalo. Nas imagens, pirâmides de detidos nus, prisioneiros com correntes no pescoço, ameaçados por cachorros ou obrigados a se masturbar.
Estes maus-tratos foram apresentados pela administração americana como obra de alguns poucos militares isolados. Onze soldados americanos foram condenados a penas que foram desde a expulsão do exército até dez anos de prisão.
Mas o ex-presidente americano George W. Bush considerou que o episódio foi "o erro mais importante" cometido pelos Estados Unidos no Iraque. A prisão foi fechada gradualmente entre setembro de 2006 e fevereiro de 2009.
Outro detido, Mahmoud Ali Hussein, observa onde antes estavam os membros de seu corpo e promete: "Jamais me esquecerei do que os americanos fizeram e ensinarei meus três filhos a combatê-los".
Trabalhando na oficina de seu pai em Faluja, 60 km a oeste da capital, Mahmoud Ali Hussein, que hoje tem 35 anos, foi detido com outros dez habitantes desta localidade em outubro de 2005, no auge da insurgência nesta região sunita.
Ferido em um atentado contra o comboio americano que o levava à sinistra prisão, terminou perdendo os braços e as pernas, amputado. "Os soldados americanos eram brutais. Inclusive os doentes eram amarrados às camas", lembra este homem, que foi libertado em 2006, sentado em uma cadeira de rodas. Enquanto fala, um familiar aproxima um cigarro de seus lábios.
Construída nos anos 1960, a prisão era um centro de tortura e execução sob o regime de Saddam Hussein. Após a queda do ditador, em abril de 2003, o local foi batizado pelos Estados Unidos de "Centro correcional de Bagdá". Foi transferido aos iraquianos em setembro de 2006.
Segundo Nagi Abid HAmid, chefe de Ahed (promessa), uma organização de defesa dos direitos dos prisioneiros, cerca de 70% dos milhares de iraquianos que passaram pelas prisões americanas têm sequelas. "Têm episódios de violência, alguns se isolam de suas famílias ou se negam a se alimentar durante dias, outros se divorciaram", explicou.
Em Samarra, 110 km ao norte de Bagdá, Abu Mohammad, um professor de 47 anos, assegura que se tornou antissocial. "Já não consigo conversar, nem passar uma noite com amigos. Tenho o sentimento de que meus filhos me odeiam", conta este pai de cinco filhos, detido em março de 2004, já que se encontrava no local de um atentado antiamericano. Esteve em Abu Ghraib por dois anos.
No jardim de sua residência em Faluja, enquanto um de seus familiares distribui fotos de Mahmud antes do atentado, seu pai Ali Hussein lança um chamado: "Se existe uma justiça internacional, estes americanos devem ser julgados. Espero que aconteça com eles o mesmo que ocorreu com o meu filho".

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