sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Tarso, PAGUE O PISO OU A EDUCAÇÃO PARA!


Mérito e meritocracia

JUREMIR MACHADO DA SILVA

Admiro o governador Tarso Genro. Admiro e respeito. Quando a gente admira e respeita alguém, precisa argumentar. Por que mesmo o governador quer implantar a meritocracia para avaliar o magistério estadual? Essa história de que é mérito, não meritocracia, parece para gaúcho dormir no frio. Não há diferença. Ou há? Parte da mídia tem raiva dos professores, especialmente do Cpers, e apoia esse tipo de medida como se fosse a salvação da lavoura. É a parte da mídia que louvou o neoliberalismo, o milagre chileno, o Estado mínimo de Ronald Reagan, o déficit zero da Yeda e tudo que, sendo arcaico ou ilusório, é apresentado pela Veja e pelo Estado de S. Paulo como sendo moderno e fashion. Quero entender o governador. Elegeu-se contra o modelo de Yeda Crusius. Tratou de aprovar um pacote previdenciário que só foi contestado pelos yedistas por simulação e oportunismo.

Tarso Genro ainda não está pagando o piso salarial do magistério que ajudou a criar como ministro da Educação. Será que vai fazer uma chantagem com o magistério? Pagar o piso se o magistério aceitar a meritocracia? Sei que a palavra é forte. Seria uma maneira de aliviar o caixa? Com a meritocracia, cai o atual plano de carreira e terá menos gente no topo para receber certas vantagens? A minha pergunta é simples: por que só o magistério? Por que tem mais gente? Se for assim, a exemplo do novo Código de Processo Penal, acusado de ter sido aprovado para diminuir a população carcerária e os gastos públicos com presídios e presidiários, a meritocracia será apenas uma medida econômica disfarçada de preocupação com alunos e educação. Quero entender. Não consigo. Está bem difícil.

O secretário da Educação sempre foi contra a meritocracia. Vai aplicá-la? O governador Tarso Genro quer ser chamado de Yeda de bigode? Está dizendo que o magistério trabalha pouco? Eu acho essa medida discriminatória. Não se pode cobrar alíquotas previdenciárias diferenciadas de funcionários. Por que se poderia condicionar os rendimentos a critérios diferentes de avaliação? Ou se aplica a todos ou a ninguém. Tenho certeza de que o governador não verá neste texto um ataque ao seu governo, mas uma tentativa de reflexão. Entra governo, sai governo, a tentação é uma só: enquadrar o magistério, barrar aumentos salariais substantivos, cobrar desempenho. Pagamos uma fortuna aos professores? Eles são muito ruins? Tudo vai bem nos demais setores? Por que secretários e deputados não recebem também de acordo com o mérito e o rendimento?

Pense bem, governador. Isso vai dar bolo. O bicho vai pegar. Teremos um novo setembro negro? Vejo os professores em pé de guerra. No plano meritocrático de Canoas tem um elemento bizarro. Valoriza-se a disciplina do professor e a saúde. Quem não adoecer muito, nem contestar demais ganhará pontos. Estou dizendo bobagens? É a minha tradução de alguns critérios. Uma coisa é certa: o magistério não vai aceitar no mole. É guerra. Dá tempo de botar a bola no chão e chutar certo. Ou será que é mesmo avaliação pelo mérito e não reles meritocracia?

JUREMIR MACHADO DA SILVA é jornalista, escritor e professor

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